quarta-feira, 20 de junho de 2007

O outro lado da moeda

Resolvi fazer um agrado para as leitoras deste blog (sim é verdade... tive leitoras passando por aqui!). Para provar que sou totalmente imparcial na minha análise da vida de separado, vou tentar passar a experiência de uma mulher que resolveu se separar, isto é, dar um pé na bunda do cara.

Calma... calma... nada de falar da minha ex aqui! Ética antes de mais nada. O que acontece é que eu tive a feliz coincidência de conversar com uma grande amiga que estava toda insegura porque queria terminar o namoro-casamento de 9 anos mas não tinha coragem. Daí para infelicidade do pobre rapaz, ela resolveu me contar a história e perguntou o que eu achava. Então vamos ao cenário:

Estamos falando do típico casamento. Relacionamento bem estável, com algumas brigas superadas e uma ou outra separação temporária no meio do caminho é verdade, mas sempre voltaram a ficar juntos. Amigos em comum, apoio da família... todo mundo torcendo pra sair casamento oficial. E o ponto crucial: os dois são grandes amigos. Mas daí veio "a dúvida".

Eu acho que "a dúvida" vem mais cedo ou mais tarde na cabeça de toda mulher que está em um relacionamento sério. Sabe quando você acabou de sair de casa e de repente bate uma insegurança se você lembrou de trancar a porta de casa? Você tem certeza de que trancou, que é bobagem se dar o trabalho de voltar pra verificar. Mas daí fica aquela sensaçãozinha chata de que talvez, só talvez, você esqueceu e quando voltar pra casa no fim do dia vai se arrepender de não ter voltado pra checar. Pois é, "a dúvida" é a mesma coisa, só que em vez de se perguntar se a porta está trancada, você se pergunta se está apaixonada pela porta do seu marido.

Voltando à história, ela chegou na "dúvida". E fez o que toda a mulher faz quando está em dúvida ou insatisfeita com alguma coisa: dá pequenos sinais e dicas de que não está legal. Obviamente não funcionou. Uma coisa que as mulheres teimam em fazer, é pensar que um homem vai responder a um "simancol" como uma mulher. Mulheres, entendam: homens são como crianças de 5 anos de idade. Não é a cara feia da professora que vai fazê-lo entender que não pode botar fogo na carteira. Não adianta ficar chamado a atenção discretamente esperando que ele entenda e tome a atitude que vocês esperam que ele tome.

E mesmo que estivéssemos falando de um cara super sensível, atencioso e completamente devotado (o que é uma fantasia, a não ser talvez num relacionamento homossexual) e ele perceber os sinais, ele vai reagir como todo homem reage numa situação dessas: vai fingir que não está acontecendo nada e esperar o pior passar.

Eu sei que pode parecer difícil de entender tanto para os homens quanto para as mulheres, mas tudo pode ser explicado pela biologia. A mulher é por natureza uma constante mudança. Puxa vida, é uma montanha russa de hormônios subindo e descendo, subindo e descendo, o tempo todo! Uma verdadeira novela das oito de emoções condensada em 28 dias. É claro que a mulher vai ter dúvidas sobre qualquer coisa, ela não sabe nem se vai estar de bom humor amanhã!!! Enfim, tudo pode estar perfeito na vida de uma mulher, mas mais cedo ou mais tarde, ela vai achar que tem alguma coisa errada.

Já o homem não tem nada disso. É uma única e verdadeira constante durante toda a sua vida: espalhe o seu código genético. A única variabilidade é que alguns homens ficam solteiros e espalham o código por aí à esmo o resto da vida, enquanto outros se casam e espalham o código num lugar só por um determinado período de tempo e depois voltam a espalhar à esmo (por favor usem camisinha!). Sempre que um homem encontra um problema, ele vai fingir que não é com ele na esperança de que vai passar, ou que alguém vai resolver pra ele. Querem maior exemplo do que a política do "eu não sei de nada" do nosso querido presidente?

Mas voltando à história, ela ficou dando os sinais e ele ficou ignorando. E ela foi ficando cada vez mais frustrada, e ele continuou ignorando. Aí ela conversou com um separado triturador de almas que falou o seguinte: "Você é uma sacana! Está aí enrolando o pobre coitado. O cara tá apaixonado, morrendo de medo de te perder e você fica aí dando voltinhas com a cabeça dele. Vai lá e acaba com essa agonia de vez." Obviamente ela achou isso um absurdo: "Ah mas eu não quero magoar ele. Eu gosto muito dele!"... (Alguém já leu isso antes por aqui?)

O triturador de almas falou pra ela: "Se você gosta tanto dele, fica com ele, ué? Quer separar porquê?"... E a resposta foi uma bomba! Ai de vocês mulheres se algum dia falarem isso em voz alta perto do futuro ex... Ai de vocês homens se não encherem a cara da mulher de bolacha se ouvirem isso alguma vez... A resposta dela, dita quase com vergonha (e tem que ficar com vergonha mesmo), foi: "Mas é que eu gosto dele como um irmão..."

Empatia é uma coisa complicada. Não pude deixar de tomar as dores do irmão... quero dizer, do marido. Apesar de toda a pressão social, virar irmão da esposa é pior do que ser corno. Claro que ser traído magoa muito, mas quando a separação é porque apareceu um outra pessoa, você tem uma razão óbvia do porque acabou. Simplesmente apareceu alguém que mexeu com ela. Agora dizer que a relação acabou porque você, do nada, virou um irmão para ela... isso sim é motivo para anos de terapia.

Minha reação na hora da resposta foi tão evidente que acho que foi exatamente nesse momento que ela finalmente tomou a decisão de descer o machado. E não deu nem um mês e mais um separado, sem nem imaginar como as coisas puderam chegaram naquele ponto, foi solto no mundo.

Seja bem-vindo irmão....!!!!
quero dizer, separado.

2 comentários:

Mariana disse...

Como me considero uma das leitoras alvo desse relato, acho que, bem, é o primeiro caso do gênero do qual ouço falar! Rsrsrs.
O que vejo mais são mulheres que não tomam ou protelam a decisão de se separar, ainda que tudo esteja desmoronando, meio por medo de voltar às batalhas da vida de solteira e meio porque sentem que devem a qualquer custo manter o relacionamento, sentem-se pessoalmente responsáveis por ele. E, sinceramente, para muitas mulheres, o casamento ainda é um tipo doentio de segurança social -ainda mais agora, que a maternidade voltou a ser uma pressão tão forte.
Mas seu conselho foi perfeito! Virar irmão é uó!

Beto disse...

É verdade Mariana... esse caso é mais uma exceção do que a regra.
O que acho mais comum tanto para homens quanto para mulheres num casamento é a tentativa de manter o status quo, independente do custo. Conheço alguns casais que continuam juntos mais por comodidade do que por amor. E insistem no casamento por conta da família, filhos, círculo social, ou simplesmente porque têm medo da vida de separado. Daí vivem de cara fechada, se comunicam mais por grunhidos do que palavras e passam horas juntos sem sequer olhar um pro outro.
Às vezes dá a impressão que foi dali que o Romero tirou idéias para sua série de filmes de Mortos-Vivos...