domingo, 8 de julho de 2007

Domingo é sempre assim...

Estava eu no meu torpor de domingo à tarde, os últimos frutos da ressaca criteriosamente cultivada na noite anterior já haviam sido colhidos, os olhos mal acompanhavam a troca convulsiva de canais, a mente ainda se recusava a funcionar e o sono, revoltado por não ter recebido a devida atenção da noite, começava a cobrar as horas atrasadas...

De repente, uma música de gosto duvidoso despertou os sentidos: lalá-lalalá... Sílvio Santos vem aí...! "Ah é... hoje é domingo", gospe o cérebro. Em meio à distração, os olhos focaram num grande mosaico atrás do icônico apresentador. Estava cheio de luzes piscando e valores em dinheiro que algum freguês do Baú da Felicidade ansiaria em ganhar. Mas com a maioria dos quadros estão apagados, parece que faltavam somente as últimas perguntas.

O apresentador lança a primeira delas valendo $1.000: "Qual o seu maior sonho?" Putz, que pergunta ridícula! O cara fatura esse milão fácil... Mas a resposta do participante não vem. O apresentador então diz com uma risadinha irritante "Tempo!". Um relógio improvisado em croma-key aparece no canto da tela acompanhado de um efeito sonoro repetitivo, toscamente sincronizado com a coreografia das dançarinas nos cantos do palco. O tempo termina com uma sineta que me faz pensar em abaixar o volume da televisão, mas mudo de idéia quando a resposta chega quase como um suspiro: "Passo"... Que ridículo!

Segunda pergunta valendo $5.000: "Quais são seus planos pro futuro?" Caramba! Que tipo de pergunta é essa?!? Tem milhares de respostas possíveis! Só que o participante não responde e o reloginho começa o barulho irritante novamente. Dessa vez ele não espera a sineta e responde com mais convicção: "Passo!"

O apresentador parece se divertir com a inaptidão do participante e faz algumas piadas sem graça. O auditório responde às piadas com uma precisão quase ensaiada. O participante tenta formular uma desculpa, mas é interrompido pela pergunta número três, dessa vez valendo $10.000: "Qual o seu projeto de vida?" Eu quase grito para a televisão: "Responde qualquer coisa! Fala que você quer casar e ter filhos, que quer escrever um livro, trilhar o caminho de Santiago... descobrir a resposta para a vida, o universo e tudo mais! Qualquer coisa estúpida, estúpido!"... Minha irritação aumenta com a chegada do maldito reloginho. Dessa vez o participante espera a sineta, balbucia alguma coisa incompreensível... uma resposta? Minha irritação é substituída por ansiedade. Mas só até ouví-lo dizer: "Ai Sílvio, eu passo de novo."

O apresentador brinca mais uma vez com o participante e faz chacotas com o auditório. Penso em mudar de canal, mas estava começando a ficar com pena do pobre coitado e curioso em saber qual era a última pergunta e se pelo menos para essa ele conseguiria uma resposta.

O apresentador começou a fazer suspense para aterrorizar ainda mais o já confuso participante. "Agora é hora da pergunta do tudo ou nada. Caso aceite responder e acerte a resposta, você sai do programa com nada menos do que $100.000. Se errar a resposta você perde tudo. E se preferir, você não responde e eu passo a pergunta para o convidado da semana que vem". O auditório incentiva o participante a aceitar o desafio e ele, tentando disfarçar confiança, dá uma resposta de verdade pela primeira vez: "Eu vou responder, Sílvio!" O auditório aplaude e minha paciência diminui. Eu já sei que ele vai enfiar os pés pelas mãos. O apresentador então abre o último quadro iluminado do mosaico, providencialmente maior que os demais. E a pergunta é...: "O que você quer?"

Dessa vez não tem reloginho, não tem som irritante, não tem dançarinas bregas e nem auditório. Somente um close do participante olhando em total pânico para os lados. Tentando inutilmente encontrar uma dica da resposta ao seu redor. Só que não tem ninguém lá para ajudá-lo. Eu olho com mais atenção e finalmente começo a reconhecer a figura se aproximando na tela...

Antes de completar minha constatação, levanto de um salto do encosto do sofá. O suor está frio na minha testa, já está escuro lá fora e um tubarão acabou de devorar o Samuel L. Jackson na televisão. Os olhos, agora atentos, acompanham o rastro de sangue do personagem, o sono não pode mais ser visto no recinto, e a mente... ativa o suficiente para decidir que nunca mais como duas porções de lasanha depois de uma noitada de sábado...

8 comentários:

Mariana disse...

Mas ora, Beto! Era de se esperar, afinal, enquanto sábado à noite é dos solteiros/ separados, domingo é o dia internacional dos casados!! Rsrsrs... Bjo

Beto disse...

E o pior, Mariana, é que esse fim de semana teve dois domingos em São Paulo por conta do feriado. Devia ter sido esperto e tentado forçar dois sábados... :-P

Beijo!!

Ilis disse...

Eu simplesmente adorei esse blog.

Beto disse...

Que bom que gostou Ilis...

Estou num hiato de inspiração, mas vou ver se tiro o atraso e publico mais um post ainda essa semana.

Cheers

Ilis disse...

ah, me apresentando: sou amiga da Mariana.
;)
bj

Beto disse...

Hehehe... Já considero a Mariana minha acessora de Marketing oficial. Acho que os únicos, ou melhor, únicas leitoras do blog são a Mari e suas amigas. Não que eu esteja reclamando!! Muito pelo contrário, acho fantástico ter tantas leitoras.

Beijo pra todas vcs...

:-)

Kika® disse...

Identificação à primeira vista. Também fui alvo de pé na bunda e nem vi a bota chegando...rs.

Vou voltar.

Mariana disse...

Ó aí, ó! A Kika não é minha vizinha, não (ainda, pelo menos...).
Percebeu como vc faz sucesso entre as mulheres?? Rsrsrs...
Beijos ansiosos pelo próximo post.
Mari, sua press relations!